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Round 6 e os jogos como ferramenta de treinamento

Cena da série Round 6 com a famosa cena de lamber o biscoito
Diego Assis
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Ninguém tem que morrer! Ao contrário do que acontece em Round 6, a série de maior sucesso do momento na Netflix, no mundo corporativo, o uso de jogos como ferramenta de treinamento costuma ter resultados bem mais positivos.

Há diferentes maneiras de incluir jogos no processo de desenvolvimento profissional, das mais simples como dinâmicas de grupo que podem ser feitas no escritório mesmo, passando pelas mais complexas, que incluem experiências ao ar livre em hotéis, resorts e escape rooms, até os mais recentes projetos de gamificação.

Independentemente do modelo adotado, a vantagem do uso dos jogos como ferramenta de treinamento está em seu poder lúdico, de abstração. Jogos fazem com que os participantes realizem tarefas aparentemente desconectadas do seu dia a dia ao mesmo tempo em que desenvolvem habilidades altamente requisitadas no universo do trabalho. As chamadas soft skills: inteligência emocional, capacidade de trabalhar em equipe, tomada de decisões, gestão do tempo e da comunicação, entre outras.

A brincadeira por trás dos jogos de Round 6

Apesar de todo o marketing envolvido em Round 6, do qual já falamos aqui semana passada, o fato de uma série produzida na Coreia do Sul fazer tanto sucesso mundo afora também tem a ver com os jogos que servem de pano de fundo para os episódios.

Seja lá qual nome você dava para elas, são brincadeiras universais que crianças nos quatro cantos do mundo já experimentaram: Esconde-Esconde, Pega-Pega, Cabo-de-Guerra, bolinhas de gude, entre outras.

De cara, incluir essas brincadeiras na série gera identificação com o público, que consegue se ver nos desafios, torcer para o jogador 001 ou 456 como se fosse ele próprio lá dentro.

Estratégia semelhante é usada em reality shows de sucesso como “Big Brother Brasil”, “A Fazenda” ou mesmo nas saudosas Olimpíadas do Faustão. Não importa tanto a complexidade do jogo. Aliás, quanto mais claros os objetivos e as regras, melhor.

Jogos revelam muito mais sobre os jogadores

Além de avançar a narrativa de quem vive ou morre, quem segue ou não na história, Round 6 usa os jogos para construir a trama e os perfis de seus personagens. E é aí que a série começa a ficar interessante para quem nos acompanha aqui na Rock Ensina!

Talvez você não tenha reparado, mas cada um dos 6 jogos apresentados ao longo dos episódios revela aspectos das personagens que indicam suas habilidades e competências, soft skills e hard skills, e como elas lidam diante de desafios que exigem trabalho em equipe, tomada de decisão sob pressão e a busca de saídas criativas diante do caos.

Em um dos episódios mais emblemáticos, os jogadores são obrigados a formar times para enfrentar uma prova de Cabo-de-Guerra. Sem saber ainda qual seria o jogo, alguns conseguem formar grupos “mais fortes” (i.e., com mais jogadores homens e jovens) e outros acabam formando grupos “mais fracos” (i.e., com mais mulheres e idosos em sua composição). Ao contrário do que os próprios jogadores acreditavam, não é a força, mas a boa estratégia e o trabalho em equipe que fazem com que um time supostamente mais fraco vença o mais forte no desafio do Cabo-de-Guerra.

Esse mesmo desafio mostra a importância do papel do líder como motivador dos seus liderados, no estabelecimento da confiança mútua e, principalmente, em sua capacidade de tomar decisões rápidas e criativas diante de cenários que pareciam perdidos.

Há inúmeros outros exemplos do que fazer — e do que não fazer — no mundo corporativo que podem ser tirados dos episódios de “Round 6”.

No segundo desafio da série, quando os jogadores têm de recortar uma forma geométrica desenhada em um biscoito de massa altamente quebradiça, cada jogador procura adotar uma estratégia. Algumas mais ou menos inteligentes, e outras completamente fora da caixa, como quando um deles resolve lamber as costas do biscoito para ajudar a dissolver a massa e evitar a quebra. A tática é observada à distância por um jogador supostamente mais fraco, que também têm sucesso no desafio. “Sobrevivi porque copiei o seu método”.

Na reta final, quando são obrigados a passar por uma ponte feita de chapas de vidro, com algumas frágeis e outras ultrarresistentes, os jogadores também devem observar o líder. Aqui não é só a intuição que determina o sucesso na prova, mas também os conhecimentos técnicos (hard skills). Um dos jogadores havia sido vidraceiro e consegue tomar melhores decisões ao estudar características de refração de luz e som nas placas mais resistentes.

Team Building: como os jogos e dinâmicas em grupo fortalecem soft skills

Ao focar na formação de grupos e em atividades que exigem bom trabalho em equipe, Round 6 faz outro link com os treinamentos corporativos chamados de Team Building. Em bom português: construção de times.

Treinamentos de Team Building geralmente são realizados em locais fora do ambiente de trabalho, com dinâmicas que podem durar alguns dias. As provas podem incluir disputas do tipo Cabo-de-Guerra, Desarme a Bomba, Caça ao Tesouro, Tirolesa e Torre de Babel ou mesmo partidas de futebol ou vôlei de praia.

A ideia é fortalecer a integração e o relacionamento entre os colaboradores de uma mesma empresa ou mais e desenvolver habilidades comportamentais dos profissionais que, mais tarde, serão aplicadas no dia a dia do trabalho.

Além do trabalho em equipe, outras habilidades trabalhadas nessas dinâmicas incluem: resolução de problemas, planejamento, comunicação, negociação, liderança, gestão do tempo e gestão de talentos.

Outro fator altamente positivo em dinâmicas de grupo imersivas como essas é que a convivência e o (re)conhecimento dos membros de cada equipe fortalecem os laços entre eles e a capacidade de empatia com os diferentes. Além disso, por serem realizadas em ambientes geralmente prazerosos e livres de interferência externa, tornam-se experiências inesquecíveis para quem participa ajudando a fixar ainda mais os aprendizados.

É lógico que a vida real não é Round 6 e que um aspecto mais do que importante nesses treinamentos é o de garantir que as provas não atinjam a integridade física e moral dos participantes. Portanto: nada de apostar a vida em um simples jogo de bolinhas de gude muito menos de deixar os jogadores disputarem a comida a tapa!

Gamificação: como motivar seus colaboradores usando jogos

“Os jogos têm a incrível capacidade de manter as pessoas engajadas por um longo tempo, construir relacionamentos, confiança entre pessoas e desenvolver seus potenciais criativos”, afirma Yu-Kai-Chou, empreendedor taiwanês que é considerado um dos pioneiros da chamada Gamificação.

Gamificação (ou gamification, em inglês) é o nome dado à estratégia de usar elementos comuns aos jogos — especialmente os videogames — para motivar e engajar pessoas a atingir seus objetivos.

Como nos games, à medida que evoluem nos desafios e missões, os participantes de um projeto gamificado acumulam pontos, medalhas e liberam novas informações para avançar em um processo.

Ao aliar entretenimento à aprendizagem, estratégias de gamification podem ser empregadas para melhorar o envolvimento em tarefas cotidianas em uma empresa, em projetos de longo prazo que exigem motivação ou engajamento e até em treinamentos corporativos ao conferir pontos e ranqueamento aos participantes.

Um conceito-chave para aplicar a gamificação é o de Estado de Flow, que consiste na capacidade dos bons games de colocar o jogador em um estado mental de engajamento total enquanto joga ou realiza uma atividade.

Para isso, é necessário que as atividades propostas sejam desafiadoras na medida certa e despertem emoções capazes de fomentar a motivação ou o engajamento do jogador nos desafios propostos. Sem isso, o “jogo” falha em sua missão principal.

São, portanto, esses sentimentos, inseguranças e razões pelas quais as pessoas querem ou não fazer as coisas que vão determinar o sucesso de um projeto de gamificação na sua empresa.

Uma coisa é certa: ao contrário da série Round 6, você não vai precisar pagar um prêmio de 45,6 bilhões de wons para engajar seus colaboradores, muito menos ameaçá-los com desafios de vida ou morte. Ufa!

 

* Com colaboração de Cleyton Palauro