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Ouça o ABBA: gabar-se do seu sucesso não pega bem

Os integrantes do grupo Abba em foto da turnê Voyage

Foto: Divulgação

Diego Assis
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O ABBA – lembra dele? – voltou às manchetes esta semana após divulgar duas músicas inéditas em 40 anos e anunciar a volta do grupo em uma turnê virtual marcada para 2022.  Os novos vídeos bateram rapidamente a marca de milhões de views no YouTube e o nome da banda foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter.

Você pode não ter idade para ter sido fã do grupo nos anos 70 ou saber quem foram Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad, os quatro artistas que compõem a formação e as letras inicias do nome ABBA. Mas é quase impossível que não tenha ouvido qualquer um de seus grandes sucessos algumas muitas vezes na vida. A disco music “Dancing Queen” é presença garantida em bailes de casamento e formatura; dramática “The Winner Takes It All” já foi tocada em seriados pop como “Glee” e “Better Call Saul”; enquanto que a ensolarada “Mamma Mia” foi tema de um dos musicais de teatro mais vistos no mundo inteiro, que passou pelo Brasil em 2010.

Se ainda não está convencido, vamos lá com alguns números:

  • Com apenas 10 anos de atividade oficial (1972-1982), o ABBA já vendeu impressionantes 385 milhões de discos no mundo todo
  • Seus hits alcançaram 18 vezes o número 1 das paradas musicais
  • No Reino Unido, o ABBA é o 3º grupo que mais vendeu discos na história, atrás apenas dos Beatles e do Queen, mas à frente dos Rolling Stones
  • Em 1977, durante a turnê de divulgação de seu primeiro filme, ABBA: The Movie, nada menos do que 3,5 milhões de ingleses tentaram comprar ingressos para dois shows do grupo na lendária casa de shows Royal Albert Hall

E aí, é sucesso que fala?

A Lei de Jante: Deixe o artista ser o artista

Um dos tantos fatos curiosos sobre o ABBA é que, apesar de todas as glórias da carreira do quarteto no passado e provavelmente no futuro próximo, a palavra “sucesso” não soa muito bem aos ouvidos deles próprios.

“Gabar-se não pega bem. Ainda mais sem necessidade”, admite Benny Andersson, compositor do ABBA, em depoimento dado para a série documental “This Is Pop”, disponível na Netflix.

O doc tem um episódio todo dedicado à influência sueca na música pop mundial, em que descobrimos que o ABBA, na verdade, abriu as portas para novas gerações de compositores e produtores que estão por trás de alguns dos maiores hits dos últimos tempos.

Você certamente já ouviu “Baby One More Time”, da Britney Spears, certo? Sueca. Ou “I Want It That Way”, dos Backstreet Boys? Sueca também. Que tal “Roar”, da Katy Perry, “Shake It Off”, da Taylor Swift, ou “One More Night”, do Maroon 5? Sueca, sueca. E sueca.

O que talvez você nunca tenha ouvido é o nome de Martin Karl Sandberg, nome verdadeiro de Max Martin, o compositor e produtor de Estocolmo por trás de TODAS essas músicas. Para se ter uma ideia do tamanho do… sucesso (!) de Martin, basta dizer que existem só dois compositores com mais hits em primeiro lugar na história da paradas musicais: John Lennon e Paul McCartney.

A explicação para tamanha discrição é que existe um conjunto de leis não-oficiais, porém adotadas por praticamente todo sueco e alguns outros povos escandinavos, chamada a Lei de Jante.

Entre outras coisas, ela diz que você não deve pensar que é melhor que os outros, que não pode sair por aí dizendo como é incrível. Isso faria de você “menos sueco”. 

Também conhecidas como Jantelagen, essas leis foram criadas ainda na Idade Média para que as pequenas comunidades locais não perdessem a harmonia e o senso de coletividade caso alguém se achasse superior aos demais.

O gigantesco sucesso dos suecos na música pop e o relativo anonimato em que se mantiveram mostram como essa máxima cultural segue forte até hoje.

A recusa em falar sobre o próprio sucesso — mas não de continuar trabalhando duro para alcançá-lo — talvez seja um dos fatores por que eles continuam a ser tão bem-sucedidos no que fazem.

“Deixe o artista ser o artista. Estamos bem ficando nos bastidores”, resume Karl Johan Schuster, também conhecido como Shellback, compositor, entre outros, do riff chiclete de “So What”, um dos maiores hits da cantora Pink.

Dar e Receber: o vencedor nem sempre leva tudo

A tradição ancestral da Lei de Jante tem uma espécie de versão atualizada para o mundo dos negócios. 

No best-seller “Dar e Receber”, o psicólogo organizacional Adam Grant defende que ajudar os outros a alcançar o sucesso, e não se aproveitar deles, é o melhor caminho para o próprio sucesso.

No livro, o autor divide o ambiente de trabalho moderno em três tipos de pessoas: os aproveitadores (takers, em inglês), os doadores (givers) e os compensadores (matchers).

Grant reconhece que em muitos locais de trabalho ainda predominam os aproveitadores, aqueles que sugam os talentos do time para alcançar os resultados e depois se gabam sozinhos deles. Profissionais assim costumam arruinar o clima organizacional, mas, segundo o autor, não tendem a durar muito tempo nos lugares nem construir uma relação duradoura com a companhia.

Em vez disso, ele aponta em suas pesquisas realizadas em centenas de locais de trabalho no mundo todo, que são os doadores, os generosos, que costumam ajudar sem pedir nada em troca e trazer os melhores resultados para as empresas.

“Se você é alguém que gosta de trabalhar em equipe, quando está em um time, você tem a habilidade de melhorar aquele time e multiplicar o sucesso dele e compartilhar os benefícios com todos”, explica Grant. 

Mas, antes disso, uma condição precisa ser cumprida. Quando estão trabalhando com aproveitadores, doadores tendem a se recolher ou mesmo sofrer com crises de burnout por se arrebentarem tentando fazer com que as coisas deem certo. A única maneira disso dar certo, afirma o autor, é eliminando os aproveitadores e aumentando o número de doadores e compensadores (que se adaptam a qualquer situação).

“O impacto negativo de um aproveitador geralmente supera o impacto positivo de um doador em duas ou até três vezes”, revela.

“Se você conseguir eliminar os aproveitadores da sua empresa, então vai ficar com doadores e compensadores. Os doadores vão agir com mais generosidade porque não precisam estar paranoicos com o fato de que os aproveitadores estarem por perto para sugá-los. E a beleza dos compensadores, que são a maior parte das pessoas, é que eles tendem a seguir a norma e reproduzem a maneira como são tratados. Compensadores agirão como doadores na presença de doadores”.

Voltando à história do ABBA e parafraseando um de seus maiores hinos, o final feliz da história é que nem sempre o “vencedor” leva tudo no final.

Bonus Track: a nova viagem do ABBA

Se você me acompanhou até aqui, convido-o a ouvir a nova música do ABBA e assistir a um vídeo de making-of com os próprios integrantes falando sobre como foi a fantástica viagem de transformação deles em personagens digitais para a turnê “Voyage”. Que certamente será mais um absurdo sucesso de público e renda, mas provavelmente você não ouvirá isso da boca deles 😉