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Conteúdos sobre autoconhecimento! :)

Acorde! O que Matrix ensina sobre nós e o mundo em que vivemos

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Foto: Reprodução

Diego Assis Prof. Roberto Sachs
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“Acorde, Neo.” 

Escrita em letras verdes na tela de um computador que bem poderia estar num museu hoje, a frase que abre os primeiros minutos do clássico “Matrix” era um chamado de despertar não só para Neo, o herói da história, mas para todos nós, naquele já distante ano de 1999.

Mais que um sucesso absoluto de bilheterias, que transformou Keanu Reeves em astro do cinema e deu origem a duas continuações e uma terceira prevista para dezembro deste ano, “Matrix” conseguiu um feito que raros produtos da cultura pop alcançam: fez o público pensar.

Por trás das roupas de couro, das cenas incríveis de ação e do herói que desviava de balas, o filme foi o primeiro a refletir, naquela virada de século, as muitas transformações que a então recém-criada internet já começava a provocar no mundo.

Conceitos até então confinados às aulas de filosofia, como a busca pela verdade, real versus vs. simulacro, hiper-realidade e ciberespaço, de repente invadiram as rodas de conversa, dos corredores das escolas e do trabalho aos almoços de família.

Como o personagem de Keanu Reeves, todos naquele ano de 1999 queriam saber “o que é a Matrix” e o quanto daquilo era pura fantasia ou, pelo contrário, uma assustadora revelação do que já estávamos vivendo ou viveríamos num futuro próximo.

O fato é que esse futuro chegou e as profecias de “Matrix” continuam mais atuais do que nunca

A Matrix e a Internet das Coisas

Para você que não lembra ou que talvez não tenha visto o filme original, convém explicar: afinal, o que é a Matrix?

“A Matrix está em todo lugar. É tudo que nos rodeia. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando você ligar sua televisão. Você pode sentir isso quando você vai para o trabalho, quando você vai à igreja , quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para cegá-lo da verdade.”

Se essa explicação dada por Morpheus, o responsável por guiar o herói em sua jornada de descoberta, soava bastante enigmática para você naquela época, sugiro tentar de novo.

Troque Matrix por internet e me diga se não é verdade que “ela está em todo lugar”, em “tudo que nos rodeia”, na sua televisão, no seu trabalho e nos boletos que você paga. 

Se em 1999 os personagens do filme ainda precisavam recorrer a um fio de telefone para se conectar à Matrix, de uns anos para cá, com a popularização do wi-fi e do 4G, a Matrix está, sim, em todos os lugares e momentos de nossa vida. 

Já existe até um nome para isso: Internet das Coisas ou IoT (internet of things, na sigla em inglês). Não precisamos mais de um computador, muito menos de um fio de telefone, para estarmos conectados. A verdade é que hoje sequer desconectamos. Já vivemos na Matrix há algum tempo e talvez nem tenhamos dado conta disso.

A Alegoria da Caverna, de Platão, e a busca pela verdade

OK, já ficou claro que a Matrix era uma metáfora para a internet como conhecemos hoje, mas e essa outra parte da explicação de Morpheus?  

“[A Matrix] É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para cegá-lo da verdade.”

Aqui entramos no caráter mais filosófico do filme, mas que não deixa de ser uma questão que nos aflige até hoje: se vivemos cada vez mais mergulhados na internet e admitimos que a internet é um espaço virtual, feito de código de computador, então onde fica o real? Estamos acessando a verdade ou apenas uma simulação dela?

Vale lembrar que essa questão não é nova, nem foi abordada pela primeira vez no filme. Muito pelo contrário. Foi Platão, quem no século IV a.C criou a chamada Alegoria da Caverna, um exercício filosófico que refletia justamente sobre até onde conhecemos a realidade ou até onde o que vemos é apenas uma representação, uma espécie de sombra na parede de uma suposta verdade que se esconde de nossos olhos?

Platão não fez questão de responder à essa pergunta e deixou a Sócrates, o personagem central de suas especulações filosóficas, o papel de buscar a resposta. Antes de conhecer as verdades sobre o mundo, porém, Sócrates precisaria conhecer mais sobre si próprio, através da razão. “Conhece-te a ti mesmo”, diz a inscrição na entrada do templo de Apolo, em Delfos na Grécia. E que também aparece numa plaquinha na casa do Oráculo, em uma cena de “Matrix”.

 

Matrix Conhece-te a ti mesmo autoconhecimento

A jornada do autoconhecimento: Neo somos nós!

Voltemos portanto ao nosso herói. Quando “Matrix” começa, somos apresentados a um programador de computador que trabalha em uma grande empresa de software, mas parece entediado e desconectado de seu trabalho. À noite, no entanto, ele encarna um hacker que vive de prestar serviços ilegais para clientes, mas que acaba se deparando com uma questão que o provoca, o tal chamado lá do começo do texto: Quem está por trás da Matrix? E por que “eu” fui procurado para ir atrás disso?

Assim como Sócrates, a busca de Neo pela resposta, mesmo sem saber exatamente onde vai dar, acaba se tornando seu propósito principal

“É a pergunta que nos move, Neo. A resposta está à sua procura. Se você quiser”, provoca Morpheus, fazendo as vezes de um Platão vestindo sobre-tudo e óculos escuros. “Você sabe que há algo errado no mundo, mas não sabe o que é.”

A jornada de Neo em busca dessas respostas exigirá dele escolhas, renúncias e muitas vezes alguns saltos no escuro que vez ou outra terminam com o herói de cara no asfalto.

Mas uma vez conhecida a verdade, ele não tem como voltar atrás. O processo de autoconhecimento marca seu segundo nascimento e uma grande transformação.

Soa familiar também? Quantas vezes você não se sentiu preso a um trabalho ou tarefa na qual não vê sentido e pensou em jogar tudo para o alto e buscar aquilo que te faça feliz? E quantas vezes esse algo que te faz feliz não era uma grande interrogação que você só foi descobrir tentando?

“Matrix” funciona tão bem até hoje não só porque é um filme redondinho e eletrizante, mas porque Neo somos nós! Com todas as possibilidades que a tecnologia trouxe para buscarmos novas formas de trabalho, algumas ainda a serem inventadas. E com todas as angústias e ambiguidades que viver num mundo 100% conectado trazem juntas.

Será que é melhor saber que o excesso de telas está transformando nossos filhos em “escravos da Matrix” e diminuindo seus QIs ou é melhor se entregar e admitir que não é mais possível viver sem elas? “A ignorância é uma bênção”, diz a certa altura um dos personagens no filme. Será?

Inteligência Artificial e a revolta dos robôs

A trama de “Matrix” se passa em um futuro fictício em que a inteligência artificial evoluiu a tal ponto que as máquinas começaram a pensar por conta própria e, por instinto de sobrevivência, decidem se revoltar contra os humanos e transformá-los em combustível para continuarem funcionando. A humanidade vira pilha, literalmente.

Especulações sobre esse cenário também não são novidade e já moviam a imaginação de grandes autores de ficção-científica como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Phillip K. Dick e até de diretores como Stanley Kubrick e Steven Spielberg.

Mas nem tudo é ficção. Os últimos avanços na tecnologia de Inteligência Artificial têm mesmo levado especialistas a refletirem sobre o momento em que as máquinas serão, de fato, mais inteligentes do que os humanos e se, de alguma forma, elas poderão usar isso contra nós.

Em 2018, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório sobre o futuro do trabalho intitulado: “Devemos Temer a Revolução dos Robôs (A Resposta é Sim)”. A tese é a de que, ao mesmo tempo em que possa trazer ganhos de produtividade, a inteligência artificial deve acabar com milhões de empregos e levar a problemas na distribuição de renda e aumento da pobreza.

Autores como Vernon Vinge vão ainda mais além e apostam que, até 2030, as máquinas podem ficar tão inteligentes que levariam ao fim da era humana. Outros como o físico Jaron Larnier já preveem um futuro em que humanos transfeririam sua consciência para computadores e experimentariam uma espécie de imortalidade digital.

Realidade ou pesadelo distópico? Vamos ter de esperar para saber. O que não significa que não devamos seguir procurando as respostas e nos preparando para cenários como o anunciado no relatório Future of Jobs de 2020, que alerta: com a inteligência artificial e os avanços da tecnologia, até 2025, metade de todos os trabalhadores do mundo terá de se requalificar.

 

Matrix frases filosofia Morpheus

10 frases de Matrix que fazem pensar

Para finalizar, deixamos vocês com 10 falas do filme “Matrix” que, 22 anos depois, ainda nos fazem pensar sobre nosso papel no mundo, nossas experiências e escolhas:

  • “Você já teve aquela sensação de não ter certeza se está acordado ou ainda sonhando?” (Neo)

  • “Eu só posso lhe mostrar a porta, mas é você quem tem que atravessá-la” (Morpheus)

  • “A maioria das pessoas não está preparada para acordar. E muitas delas estão tão inertes, tão desesperadamente dependentes do sistema, que irão lutar para protegê-lo” (Morpheus)

  • Morpheus: “Você acredita em destino, Neo?” Neo: “Não”. Morpheus: “Por que não?” Neo: “Porque eu não gosto da ideia de não poder controlar a minha vida.”

  • “Se real é o que você pode sentir, cheirar, provar e ver, então real são apenas sinais elétricos interpretados pelo seu cérebro” (Morpheus)

  • “Seus olhos doem? É porque você nunca os usou antes.” (Morpheus)

  • “Negar nossos impulsos é negar aquilo que nos faz humanos” (Mouse)

  • “Você tem que deixar isso tudo passar, Neo. O medo, a dúvida e a descrença. Liberte sua mente.” (Morpheus)

  • “Cedo ou tarde você vai aprender, assim como eu aprendi, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho”. (Morpheus)

  • “Todos os mamíferos do planeta instintivamente entram em equilíbrio com o meio ambiente. Mas os humanos não. Vocês vão para uma área e se multiplicam e se multiplicam, até que todos os recursos naturais sejam consumidos. A única forma de sobreviverem é indo para uma outra área. Há um outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão. Você sabe qual é? Um vírus. Os seres humanos são uma doença. Um câncer neste planeta. Vocês são uma praga. E nós somos a cura.” (Agente Smith)