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Ted Lasso: a série de TV que todo líder deveria ver

Jason Sudeikis, como o líder Ted Lasso
Diego Assis Prof. Roberto Sachs
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O que você acharia se o seu time de futebol do coração contratasse como técnico um treinador de futebol americano? É possível que alguém que nunca deu um chute numa bola (redonda) na vida consiga liderar uma equipe da primeira divisão à vitória?

Não vou julgá-lo se a sua primeira resposta for um sonoro “não”, mas é exatamente essa a premissa de Ted Lasso, comédia que está dando o que falar entre os fãs de séries de TV e apaixonados por futebol.

Se você ainda não tiver assistido ou ficar curioso para saber mais depois de ler este artigo, Ted Lasso está disponível para os assinantes do serviço de streaming da Apple. São duas temporadas e uma terceira e última já foi confirmada.

Estrelada pelo comediante Jason Sudeikis, a série recebeu nada menos do que 20 indicações ao Emmy 2021 e venceu em quatro categorias: melhor série de comédia, melhor ator, melhor atriz e melhor ator coadjuvante.

Mas se os prêmios e elogios ainda não te convenceram a dar uma chance a Ted Lasso, na coluna de hoje vamos mostrar como a ideia aparentemente absurda de ter como líder alguém que não tem a mínima intimidade com o assunto é algo que, no final do dia, pode trazer resultados bem interessantes para o mundo do trabalho.

Sobre o que é Ted Lasso

Ted Lasso conta a história de um ilustre desconhecido de mesmo nome que é chamado para comandar o AFC Richmond, clube de futebol que está disputando os jogos da Premier League, a primeira divisão do futebol inglês.

Como revela em sua primeira entrevista coletiva ao ser anunciado, Lasso admite que não tem currículo nem conhecimento sobre o esporte, mas que ainda assim acredita ser capaz de motivar e unir o grupo rumo à vitória.

É claro que os jornalistas, os torcedores e os próprios jogadores encaram isso tudo como uma grande piada de mau gosto ou uma pegadinha. O que de certa forma é: a atual dirigente do AFC Richmond só contratou Lasso porque quer ver o time afundar na lama para se vingar do ex-marido infiel, que a antecedeu na presidência do clube.

O grande barato da série é que, entre uma gargalhada e outra (Sudeikis está ótimo no papel e as piadas são realmente muito boas), vamos percebendo que a liderança de Ted Lasso na prática não se mostra tão desastrosa quanto se esperava.

O “jeito Lasso”: as vantagens de um líder outsider

Como já falamos, Ted Lasso não tinha conhecimento algum sobre o futebol jogado com os pés quando foi chamado para ser técnico do AFC Richmond. Na verdade, seu maior feito no esporte tinha sido como treinador de um time amador e inexpressivo de futebol americano no estado do Kansas.

Mas sua falta de conhecimento técnico, os chamados hard skills, é compensada por inúmeras competências ou habilidades comportamentais (soft skills) que um bom líder também precisa ter.

A principal delas está em enxergar os atletas como pessoas e tentar conquistar a confiança do grupo através da empatia e da atenção às emoções.

“Sucesso não tem a ver com vitórias e derrotas. É sobre ajudar os rapazes a serem as melhores versões de si mesmos, em campo ou não”, afirma o treinador em um dos episódios da série.

Outro aspecto que joga a favor de Ted Lasso é o fato de ele ser um completo outsider naquilo: além de desconhecer regras básicas do futebol, ele é de um país e de uma cultura diferentes. Mais do que um peixe fora d’água, Ted Lasso é uma escolha fora da caixa.

E isso pode ser extremamente valioso quando estamos diante de um problema que parece não ter solução — ou pelo menos que as soluções que existiam já foram testadas. Saídas criativas e inovadoras geralmente surgem quando conseguimos ter a capacidade de deixar de olhar só as árvores para olhar a floresta.

Experimente no seu trabalho: chame pessoas de outras áreas para debater um problema ou desafio. Pratique o chamado job rotation (ou rodízio de tarefas) e mude mesmo que temporariamente os funcionários de área ou departamento. Os resultados podem surpreender.

Os perigos de um líder como Ted Lasso

Se Ted Lasso e diversos outros exemplos do mundo corporativo mostram que colocar pessoas de outro setor ou ramo de atuação na liderança de projetos pode dar certo, é também importante atentar para os perigos ou desafios que virão pela frente.

O primeiro e mais óbvio é que a ausência de conhecimento técnico profundo sobre aquele segmento, suas especificidades e stakeholders, pode levar a decisões equivocadas ou até desastrosas.

Para compensar essa deficiência, é necessário que o líder se cerque de pessoas que forneçam esses dados e as consulte com regularidade, seja para acompanhar o andamento dos projetos, seja para tomar decisões estratégicas.

Na série, Ted Lasso tem a companhia inseparável de um auxiliar técnico que, se também não é um grande expert no futebol inglês, ao menos se dedica a estudar as jogadas, regras e jargões e comunicar aos jogadores exatamente o que deve ser feito.

Um dos exemplos mais famosos de como um líder outsider pode trazer problemas graves à companhia é o de John Sculley, ex-CEO da Apple que demitiu ninguém menos do que Steve Jobs da empresa em meados dos anos 80. Os dois não se davam bem, mas era Jobs quem detinha a visão de design e tecnologia que faria a Apple ser o que é hoje.

Sculley, por outro lado, vinha de uma carreira no marketing e na indústria de alimentos, a PepsiCo., e desconhecia praticamente todas as minúcias técnicas dos produtos da empresa. Durante sua gestão como CEO, a Apple lançou diversos produtos que foram um fracasso e só voltou a ganhar relevância a partir do final dos anos 90, quando Jobs foi recontratado, criou o iPod, o iPhone, e o resto é história.

5 características que fazem de Ted Lasso um líder inspirador

Voltando ao protagonista da nossa série, cujo desfecho ainda não sabemos qual vai ser, vamos elencar abaixo 5 características que fazem de Ted Lasso um líder inspirador.

1. Não foge aos desafios. Mesmo sabendo que receberia críticas e que talvez existissem pessoas melhores que ele para a função, Lasso abraça o desafio de trabalhar com um esporte que não é o seu apenas por acreditar em sua capacidade de liderar e motivar pessoas. “Encarar um desafio é como andar a cavalo. Se nos sentimos confortáveis, não estamos fazendo certo”, diz.

2. Coloca as pessoas na frente. Antes de começar a treinar jogadas, o novo técnico do AFC Richmond se preocupa com o emocional de seus jogadores. Ele quer saber quem é quem, entender quais são seus dilemas e problemas e tentar encontrar as soluções para eles. Chega a dar livros de presente pensando nas características, momento e personalidade de cada um. Mesmo diante de uma derrota, Lasso faz questão de encomendar um bolo e fazer a comemoração do aniversário de um dos jogadores no vestiário.

3. Sabe dar feedbacks. Por mais que algumas vezes ele se omita — ou finja se omitir — diante de um problema nos bastidores do time, na maioria das vezes, Lasso é muito rápido em chamar um jogador para uma conversa rápida e certeira de feedback. Ajustando o tom da conversa ao perfil da pessoa, ele tem sempre um conselho ou uma frase provocadora na ponta da língua que faz com que os jogadores reflitam por si próprios sobre o certo ou errado da situação.

4. Pratica a arte da escuta. Uma das primeiras providências de Lasso ao assumir como treinador é a de levar uma simples caixinha de comentários para o vestiário para que os jogadores depositem de forma anônima suas principais reclamações. De início alguns até veem a prática como ridícula, mas a verdade é que em questão de horas o chuveiro do vestiário volta a funcionar e os jogadores têm um problema a menos para encarar depois das derrotas em campo. Outra prova de que Lasso sabe ouvir, independentemente de quem venha, é quando ele decide colocar em prática uma jogada sugerida pelo auxiliar de vestiário que acaba dando ao AFC Richmond sua primeira vitória na temporada.

5. Valoriza momentos de contemplação e lazer. Quando não está em campo, no vestiário ou em reunião na sala da chefe, Lasso pode estar lendo um livro, cozinhando biscoitos em casa, caminhando ao ar livre ou mesmo bebendo com os amigos de trabalho no bar. Por mais simplórias e até distrativas que essas atividades possam parecer, elas são momentos fundamentais para desenvolver a criatividade, encontrar saídas fora da caixa ou apenas refletir sobre um problema sem o efeito da pressão do momento. Lasso coloca isso sempre em prática e não à toa consegue tomar decisões inesperadas, como colocar o craque do time no banco ainda no primeiro tempo da partida, e ainda assim obter resultados que pegam todos de surpresa.

Gostou dessas dicas? Então tome nota porque, afinal, nunca se sabe quando a empresa vai decidir mudar você de posição ou área e será a sua vez de encarar desafios que muitos achariam impossíveis. Lembre-se de Ted Lasso!