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O BBB imita a vida: ame ou odeie, programa é espelho do seu trabalho

BBB imita a vida e o trabalho
Diego Assis
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O Big Brother Brasil existe há duas décadas e até hoje desperta reações de amor e ódio entre as pessoas.

Muitas consideram o programa fútil, vulgar ou simples perda de tempo. Já os milhões de espectadores que assistem ao programa regularmente, torcem por seus favoritos e se unem para eliminar desafetos são os que mantêm o programa mais vivo do que nunca e um prato cheio para anunciantes de algumas das maiores marcas do país.

OK, você pode argumentar que nem toda maioria é sábia e seguir desdenhando do BBB, mas se porventura resolver dar “aquela espiadinha”, como diria Pedro Bial, irá perceber que muito do que rola dentro da casa é somente o espelho de como nos comportamos aqui fora, seja na vida pessoal ou no trabalho.

E não estou falando de corpos sarados, das baladas homéricas ou das tardes na piscina. O BBB imita a vida toda vez que os participantes precisam superar diferenças ou encontrar afinidades para trabalhar em equipe, liderar, agir sob pressão ou solucionar conflitos e problemas simples, como a falta de dinheiro para colocar comida na mesa.

Se você quer ver como tem mais a ver com o BBB do que imagina, então segue lendo!

Como funciona o Big Brother Brasil?

Se você é desses que há 20 anos se orgulha de dizer que nunca assistiu a um episódio do BBB, vamos lá a alguns esclarecimentos básicos.

O BBB é um reality show exibido desde 2002 pela TV Globo em que um certo número de participantes, que pode ir de 12 a 22 pessoas dependendo da edição, fica confinado em uma casa com câmeras espalhadas em todos os cômodos.

Durante três meses, eles não podem ter contato com nada do mundo exterior e terão suas atitudes e escorregões julgados diariamente pelo público que, a cada semana, decide quem fica e quem sai da casa em uma votação.

A escolha dos participantes leva em conta os perfis comportamentais e os diferentes backgrounds de cada um. Além, é claro, do apelo de “mercado” do participante, já que o BBB é um produto de entretenimento, e como tal precisa ser atraente, dar audiência e atrair anunciantes.

Dentro da casa eles precisam seguir determinadas regras básicas, que, se descumpridas, levam à eliminação. Os responsáveis pelo BBB também criam jogos e dinâmicas internas que estimulam a disputa e a exposição das diferenças entre os candidatos.

Costumam se dar melhor no BBB aqueles participantes que conseguem perceber as formações de alianças e jogos de poder dentro da casa, tomar as decisões certas e, ainda por cima, atender aos padrões morais de comportamento valorizados pelo público aqui fora.

O BBB nada mais é do que um jogo, e jogos, como já destacamos aqui, são ótimas ferramentas para desenvolver habilidades cada vez mais cobradas no trabalho.

Por que reality shows como o BBB fazem sucesso

Reality shows são um tipo de programa de televisão criado no final da década de 1990 e que se espalharam por redes de TV do mundo todo. Além do Big Brother, alguns dos pioneiros nesse formato incluem Survivor, No Limite, e a extinta Casa dos Artistas, que fez grande sucesso no SBT no início dos anos 2000.

O grande trunfo dos programas desse tipo é que os participantes, sejam anônimos ou famosos, acabam expondo muito mais a sua maneira de agir e ver o mundo, suas qualidades e falhas, do que quando vistos à distância no mundo exterior, protegidos pelas aparências e convenções sociais.

Por mais que tentem esconder e fazer pose, é na hora da dificuldade, em que seus nervos e resistência física são colocados à prova, que os participantes mais se revelam. E é justamente quando isso surge que o público consegue criar mais ou menos identificação com quem está lá dentro.

Apesar de muitos comentaristas e fãs mais dedicados ao BBB dizerem que o que move e diverte no jogo são os conflitos e intrigas entre os protagonistas, não é raro que os principais “vilões” do reality sejam eliminados, com altíssimas taxas de rejeição, ainda no início do programa. Isso porque, acima do valor de entretenimento do BBB, estão os valores morais do público que vota aqui fora.

Com milhões de votos recebidos, os vencedores do Big Brother ou da Fazenda, seu correspondente na Record, são um espelho de valores e escolhas que o brasileiro faz naquele momento.

Você prefere trabalhar e conviver diariamente com aquele colega que briga, cria intrigas e desestabiliza o grupo, mas no final do mês dá resultado, ou prefere estar ao lado de gente mais agradável e tranquila, mesmo que seu desempenho individual esteja um pouco abaixo do esperado?

Tiago Abravanel não suportou pressão e desistiu do BBB22

Sob pressão: até onde somos capazes de ir por R$ 1 milhão

Uma das grandes novidades do formato de reality show na televisão, quando surgiram lá no final dos anos 90, era o valor relativamente alto do prêmio pago ao vencedor. Afinal, se você vai propor às pessoas que se exponham e enfrentem desgastes físicos e emocionais, é preciso oferecer algo bastante tentador em troca, não é mesmo?

Bem, isso pode ter sido verdade lá atrás, mas em duas décadas, mudanças na economia e no próprio formato do BBB têm colocado essa crença em xeque. Primeiro porque o que antes era R$ 1 milhão e de dez anos para cá se tornou R$ 1,5 milhão de prêmio não tem mais o mesmo valor considerando as perdas da inflação e o aumento do custo de vida no país. Além disso, o início da participação de pessoas já famosas no programa, muitas com contas bancárias que já superam o valor do prêmio, também torna essa vantagem relativa.

Foi o que aconteceu recentemente, nesta edição do BBB, com o participante Tiago Abravanel. Neto de Silvio Santos, ator, cantor e apresentador de programas, ele tentou participar do BBB apenas para se divertir e, quem sabe, cacifar ainda mais a sua imagem para o mercado do entretenimento, mas acabou não suportando a pressão do programa até pedir para sair.

Mais do que apenas a decisão de um “menino rico”, que afinal não precisa de dinheiro nem de fama, o que moveu a desistência de Tiago Abravanel foi não ter conseguido alinhar a realidade do programa com o seu propósito: ele queria um “BBB Paz e Amor”, ser amigo de todos e não se comprometer, mas acabou batendo contra a rotina dura, competitiva e repleta de discórdia que se impunha no dia a dia.

Quando se olha para o histórico do BBB, são raríssimos os casos de desistência de participantes. Isso porque, tanto lá dentro quanto fora da casa, desistir ainda é visto como um sinal de fraqueza, de falta de empenho ou comprometimento.

Mas o comportamento no mercado de trabalho, especialmente com as novas gerações, tem se mostrado um tanto diferente. Nunca tantas pessoas deixaram seus empregos por não se alinharem com a visão estratégica da empresa (ou a falta dela), não enxergarem um propósito claro no que estão fazendo ou simplesmente por acharem que o salário que recebem não vale o estresse físico e psicológico que estão desenvolvendo.

Se a desistência ainda é um tabu em reality shows como o BBB, o mesmo não pode ser dito da quantidade de ex-participantes que admitem ter precisado recorrer a ajuda psicológica depois de passar pela experiência. O que é pior: desistir ou ser eliminado com 90% de rejeição pelo público e gastar o dinheiro que não tem com terapia depois?

9 clichês do BBB que são lições para a vida

Após mais de 20 anos de existência, o Big Brother Brasil desenvolveu um vocabulário próprio repetido ano a ano pelos participantes, mas que também tem sido adotado pelo público aqui fora. São inegavelmente clichês, mas que se olhados de perto e sem preconceito, ajudam a trazer lições para a vida.

“Visão de jogo”

A maior parte dos participantes que posam de bons estrategistas costuma encher a boca pra dizer que sabe “ler o jogo”, identificar seus aliados e inimigos e o momento certo de agir. Ter visão de jogo é também saber interpretar de que maneira as suas ações vão refletir não só dentro da casa, mas lá fora, junto à opinião pública.

“Voto por afinidade”

Essa é uma pérola dos participantes que costuma ser repetida em todas as edições com um significado diferente do que ela própria diz. Quando falam que vão votar em fulano para ir ao paredão “por uma questão de afinidade”, o que estão querendo dizer é exatamente o contrário, ou seja, “por falta de afinidade” com ele. Afinidade é a identificação de interesses em comum. No BBB, assim como no trabalho, é natural que tenhamos o desejo de eliminar que não está interessado em remar na mesma direção que a nossa.

Estar “no paredão”, ou “na berlinda”

Paredão era o nome dado à prática de regimes ditatoriais de colocar seus opositores em uma parede, de olhos vendados, à espera da morte diante de um pelotão de fuzilamento. A analogia no BBB e na vida não é tão grave, é claro, mas representa uma situação bastante comum quando nos vemos expostos e suscetíveis a julgamentos de terceiros que podem mudar o rumo de nossas vidas. Importante é refletir como chegamos até ali: será que fomos colocados por inimigos ou nos colocamos no paredão por nossas próprias ações?

Falar “na cara”

“Sou assim mesmo, falo na cara”. Essa é uma das frases mais repetidas no programa por participantes que querem se dizer autênticos, cheios de atitude. Mas será que falar tudo o que a gente pensa, da forma que a gente quer, é sempre a melhor estratégia? A história do BBB – e nossas relações no dia a dia – mostram que não. É preciso escolher as palavras e considerar o perfil de seu interlocutor antes de ter uma conversa importante ou mesmo dolorida.

Fulano é “uma planta”

Para os antigos, é o famoso “come e dorme”. Pessoas assim costumam fugir do tiroteio durante as brigas e conflitos no BBB, passam despercebidas do público na hora de separar os queridinhos dos vilões, mas serão certamente eliminadas no dia em que forem lembradas. Também no mundo do trabalho, pessoas que não se colocam ou demonstram opinião própria vão acabar sendo dispensadas na primeira oportunidade.

“O Brasil tá vendo”

Seja para as plantas, que pensam que estar nas sombras é a melhor estratégia, para os briguentos ou para os que se consideram acima do bem e do mal, a expressão “O Brasil tá vendo” é uma espécie de promessa de acerto de contas, de que a Justiça será feita, cedo ou tarde. No caso do BBB, em que os participantes são vigiados por quase 40 câmeras e 60 microfones até na hora de ir ao banheiro, isso não demora a acontecer. Aqui fora pode levar mais tempo, mas não tenha dúvidas: tem sempre alguém observando se o seu discurso bate com a sua ação.

“Não é pelo dinheiro”

Frase que tem sido cada vez mais comum no programa, especialmente após a chegada de participantes mais jovens, já famosos ou bem-sucedidos em suas carreiras. São aqueles que dizem estar ali por um propósito maior ou para chamar a atenção para uma causa social importante. A vida aqui fora tem nos mostrado também que esse comportamento é cada vez mais comum em pessoas que buscam trabalhar em empresas que admiram ou que julgam importantes, menos pelo salário e mais por se identificarem com seus propósitos. Muito legal, mas se você, como muitos, está ali pelo prêmio, para ajudar a comprar uma casa, melhorar a vida dos pais ou simplesmente pagar os boletos está bem também. Afinal, o trabalho existe principalmente pra isso, não é?

“Isso aqui é só um jogo”

Pode parecer óbvio, mas com tantas emoções envolvidas e o desgaste mental que faz os participantes perderem clareza de seus objetivos, muitas vezes é preciso lembrar que confrontar alguém ou indicá-lo para o paredão é apenas uma estratégia de jogo, muitas vezes de garantir a própria sobrevivência. Bons líderes sabem disso e costumam agir bem nos momentos em que decisões difíceis precisam ser tomadas, indiferentemente do aspecto pessoal das relações.
“Saio com a consciência tranquila” – Será mesmo? Raras foram as vezes em que um participante que não tenha feito nada de condenável ou equivocado tenha sido eliminado do BBB com grande rejeição. E são normalmente esses que costumam repetir essa frase logo nos primeiros minutos ao deixar a casa. Momentos de eliminação ou de demissão são mesmo muito difíceis para todos nós, afinal ferem diretamente nosso ego. Mas mais importante do que querer sair por cima é aproveitar o momento para analisar friamente nossas atitudes e reavaliar se, numa próxima, não seria melhor fazer diferente.

“Vigorar”

Esse foi um dos últimos bordões popularizados pelo BBB, na edição de 2021, pelo participante Gil. Apesar de não ter sido o vencedor daquela edição, Gil, que é homossexual e nordestino, costumava demonstrar muito empenho e compartilhar com os colegas a quantidade de estudos e determinação que colocava em sua vida para atingir todos os seus objetivos, que muitos tratavam como inatingíveis. Pois bem, “Gil do Vigor”, como foi apelidado ainda no programa, deixou a casa e assinou dezenas de contratos publicitários que renderam mais a ele do que o R$ 1,5 milhão do prêmio que perdeu para a também obstinada Juliette. Vigorou!